quarta-feira, 31 de julho de 2013

Embrapa lança cultivar de maracujá silvestre BRS Pérola do Cerrado


Foto: Allan Ramos

Diante de um auditório repleto de produtores e extensionistas rurais, foi lançada nessa sexta-feira (24), na Embrapa Cerrados (Planaltina, DF), Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a primeira cultivar de maracujazeiro silvestre registrada e protegida no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a BRS Pérola do Cerrado.
O primeiro ciclo de seleção dessa variedade foi feito em 1994 e, após quase 20 anos de pesquisas, a Embrapa está agora disponibilizando a cultivar para a sociedade. “Selecionamos aquelas plantas que tinham maior produtividade, maior tamanho de fruto e maior nível de resistência a doenças. Ao longo desses anos de estudos, a produtividade da espécie foi triplicada e seu tamanho aumentado”, explicou o pesquisador da Embrapa Cerrados Fábio Faleiro.
“Para o desenvolvimento dessa tecnologia, foi necessário formar uma equipe multidisciplinar e estabelecer parcerias internas, com outras Unidades da Embrapa e externas, como é o caso da Emater-DF. A equipe conseguiu aglutinar pessoas para o desenvolvimento e a validação da tecnologia. Isso permitiu que o material chegasse hoje ao produtor”, destacou o chefe-adjunto de Pesquisa & Desenvolvimento da Unidade, Claudio Karia, que participou da abertura da cerimônia ao lado da chefe-adjunta de Administração da Embrapa Produtos e Mercado, Mara Rocha, e do gerente da Emater-DF, Cleber Mendes.
Fábio Faleiro abordou o programa de melhoramento genético do maracujazeiro silvestre da Embrapa. “Esse maracujá não veio para competir com o azedo. É um fruto que veio para agregar valor ao sistema do produtor”, enfatizou. Ele destacou as características do fruto e seus múltiplos usos. Segundo o pesquisador, o grande diferencial de mercado dessa cultivar é que se trata de uma variedade com quádrupla aptidão: pode ser consumida in natura; é uma alternativa para o mercado de frutas especiais destinadas a indústrias de sucos, sorvetes e doces; possui potencial para paisagismo de grandes áreas por conta de suas belas flores brancas e sua ramificação densa; e, ainda, apresenta características funcionais: alto teor de fibras e de antioxidantes.
O pesquisador Nilton Junqueira apresentou dados referentes à evolução da cultura e produção do maracujá no Brasil, além de características específicas da BRS Pérola do Cerrado. Na década de 1960, o cultivo era apenas em quintais. “A importância comercial do maracujá começou na década de 1970 e desde 1995 o Brasil é o maior produtor mundial”. Atualmente, a produtividade de maracujá no Brasil é de 15 toneladas por hectare e do Distrito Federal, de 25,7 toneladas/hectare. “Isso se deve à utilização correta da tecnologia disponível: boas práticas de manejo e uso de sementes e mudas certificadas”, destacou.
A pesquisadora da Embrapa Produtos e Mercado (Brasília, DF), Keize Junqueira, tratou do processo que deve ser seguido para que uma cultivar chegue ao mercado. Ela também repassou informações referentes à aquisição das mudas do BRS Pérola do Cerrado. Como as sementes dessa cultivar precisam de um tratamento com fitohormônios para aumentar a porcentagem de germinação e uniformidade das mudas, é necessário que elas sejam obtidas com viveiristas licenciados pela Embrapa. Informações sobre os viveiros licenciados e demais recomendações técnicas para o cultivo da Passiflora setacea podem ser obtidas no endereço www.cpac.embrapa.br/lancamentoperola/
A pesquisadora Ana Maria Costa, da Embrapa Cerrados, falou sobre o sistema de produção e as características tecnológicas e funcionais do BRS Pérola do Cerrado. Ela coordena a Rede Passitec, que busca complementar e agregar informações ao melhoramento genético. São 27 instituições com mais de 100 pesquisadores com o objetivo de prover conhecimento e tecnologias para o uso funcional de passifloras silvestres para o fortalecimento da cadeia produtiva. “Como não há uma cadeia de produção estabelecida, precisamos gerar informações desde o cultivo para que o consumidor tenha o alimento disponível”. Segundo a pesquisadora, os trabalhos visam ao aproveitamento de todas as partes da planta por uma questão de sustentabilidade e de valoração da produção.
Ana Maria explicou que a cultivar BRS Pérola do Cerrado produz o ano inteiro, com picos de produção no período chuvoso (dezembro a março) e tem a segunda safra no período seco (junho a setembro). “Entre uma safra e outra, não para, mas os frutos são produzidos em menor quantidade. A partir dos oito meses de idade, a planta começa a produzir. O tempo de produção é de pelo menos quatro anos, mas com manejo adequado pode chegar a muito mais”. Segundo a pesquisadora, as condições de cultivo e produção (adubação, irrigação, espaçamento e condução) são semelhantes às do maracujá azedo. Ela destacou, ainda, as características funcionais do material – polpa rica em antioxidantes, casca rica em fibras e o óleo da semente rico em ômega 6 e 9.
Produtores - presente na cerimônia de lançamento da cultivar, a agricultora Lucília Evangelista, de Planaltina (DF), que conduz em sua propriedade rural uma das unidades de validação da BRS Pérola, disse não ter dúvidas do sucesso da cultivar. “Só não vendo mais porque não estou tendo em quantidade suficiente para atender a demanda”, contou. Para o extensionista da Emater-DF, Geraldo Magela, que acompanhou nos últimos cincos anos o trabalho de validação da cultivar junto aos produtores do DF, o material deve representar um avanço na cultura do maracujá em todo o Brasil. “Trata-se de um material rústico e que não precisa de polinização manual. Além de tudo, é muito saboroso”.
Durante a cerimônia de lançamento, foram homenageados o empresário Deocleciano Santos, do Viveiro Tropical, por sua contribuição na produção de mudas das cultivares de maracujá desenvolvidas pela Embrapa, e os produtores rurais José Landim, que foi o primeiro validador dessa cultivar em condições comerciais de cultivo convencional, e Leda Gama, primeira validadora da cultivar em condições de cultivo orgânico. Leda contou que a aceitação da variedade no mercado foi de 100%. “Já estou vendendo a minha produção a preços excelentes”, destacou. Por se tratar de um maracujá silvestre, a BRS Pérola do Cerrado apresenta alta resistência a pragas e a doenças, característica considerada de grande importância para os cultivos em sistemas orgânicos.
Após as palestras, os produtores e extensionistas puderam tirar dúvidas sobre a cultivar. O debate foi conduzido pelo chefe-geral da Embrapa Cerrados, José Roberto Peres. Segundo Peres, o lançamento da cultivar BRS Pérola do Cerrado é um exemplo de integração entre pesquisa, ensino, extensão rural e produtores, além de ser um exemplo de pesquisa participativa. “É a primeira cultivar lançada advinda da biodiversidade do Cerrado. E nós temos 12 mil espécies no Bioma a serem caracterizadas e transformadas em produtos que beneficiem a sociedade. Pela qualidade e pelo diferencial do produto, ele vai conquistar o mercado”, acredita.
O evento foi encerrado com a degustação de diferentes produtos feitos com o maracujá BRS Pérola: desde mousses, bombons e bolos até sorvetes, molhos e patês.

Características - a cultivar BRS Pérola do Cerrado foi obtida na Embrapa Cerrados a partir do melhoramento genético de uma população de acessos de diferentes origens de Passiflora setacea, uma das 200 espécies brasileiras de maracujás silvestres. Popularmente, é conhecida como sururuca, maracujá de cobra e maracujá-do-sono, pois a polpa dos frutos, segundo o uso popular, ajudaria a prevenir problemas de insônia. Quando maduros, os frutos têm coloração verde-claro a amarelo-claro, com listras longitudinais verde-escuras. O peso do fruto varia de 50 a 120 gramas e o rendimento da polpa é em torno de 35%. O florescimento se inicia 60 dias após o plantio e frutifica nas condições de outono-inverno no Brasil Central, ou seja, na entressafra do maracujá-azedo.

Juliana Caldas (MTb 4861/DF)
Breno Lobato (MTb 9417/MG)
Embrapa Cerrados

juliana.caldas@embrapa.br
breno.lobato@embrapa.br
(61) 3388 9945

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