Cerca de 4 mil camponeses/as estão desde esta
quarta-feira (16) na sede da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São
Francisco e Parnaíba – Codevasf, em Juazeiro, Bahia. A expectativa do movimento
era receber a presença de algum representante do Governo Federal – conforme
solicitaram em documento oficial enviado previamente à presidência da República
– para realizar uma Audiência Popular do Semiárido. Na pauta da audiência
estariam diversas reivindicações e denúncias ligadas à soberania alimentar,
hídrica e aos direitos territoriais, sendo o sertão baiano escolhido por ser
referência no desrespeito a estes direitos devido a ação de grandes empresas
voltadas para o agronegócio centrado na exploração do potencial do Rio São
Francisco.
No final da manhã, os movimentos informaram que vão
continuar ocupando as dependências da 6ª Superintendência da Codevasf e pediram
aos funcionários que paralisassem suas atividades. Para o Superintendente da
Codevasf, Emanoel Lima, o movimento é legítimo, mas “esta agenda devia ser
marcada em Brasília, porque a 6ª Superintendência não tem autonomia financeira,
nós só agimos de acordo com as deliberações da presidência e as deliberações do
Planalto”, defendeu-se.
Considerando que o governo não tem ouvido o povo, é
que uma das pautas que tem sido destaque é a reivindicação da construção de
cisternas de placas, o que vem sendo feito em diversos municípios pelo
Ministério do Desenvolvimento Social, através da Articulação do Semiárido –
ASA, mas que por outro lado a Codevasf e outros órgãos vem gastando altos
recursos com a implantação das cisternas de plástico polietileno, através do
Ministério da Integração Nacional. Em ato simbólico, utilizando-se de
ferramentas de trabalho, camponeses/as destruíram uma das caixas de polietileno
que o governo chama de cisterna e vem sendo implantada no Semiárido desde o ano
passado. Para uma das integrantes do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)
do estado de Sergipe, Rafaela Alves, “a política de Convivência com o Semiárido
precisa ser construída, mas deve ser de acordo com as observações do povo”.
Maria Casé, da Coordenação do Movimento no estado
do Piauí, reforça que esta ação também denuncia uma afronta das grandes
empresas à sociedade, a exemplo da Agrovale, que “representa o maior consumo de
água da região. Ela consome por dia o equivalente a população de Juazeiro,
Petrolina e Casa Nova juntas e paga 89 vezes menos. Isso é um crime, isso é um
atentado aos direitos camponeses, aos direitos humanos, é um roubo e por isso
nós não podemos sair daqui sem uma resposta do Governo Federal”, pontua.
Jornada Nacional de
Lutas
A ação faz parte da Jornada Nacional de Lutas por
Soberania Alimentar que teve início no dia 14 e vai até o dia 18. No Vale do
São Francisco, na madrugada de segunda (14) para terça (15), cerca 2.500
pessoas ocuparam a 36ª Unidade de Pesquisa da Monsanto no Brasil, situada no
Projeto Nilo Coelho, em Petrolina (PE). Na ocasião, as/os trabalhadores/as
arrancaram parte de plantios transgênicos e plantaram sementes crioulas no
local como forma de denunciar o modelo de produção que a multinacional
sustenta, baseado em agrotóxicos (veneno), na disseminação de sementes
transgênicas e diversas outras formas de agressão ao meio ambiente e à saúde da
população que, direta ou indiretamente, é vítima de sua ação nociva.
Permanecem na sede da Codevasf camponeses e
camponesas de diversos municípios baianos e de 12 estados, sendo: integrantes
de movimentos sociais da Via Campesina como o MPA, Movimento de Atingidos por
Barragens (MAB), Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), e integrantes de
outras organizações sociais, a exemplo da Articulação Estadual e Regional de
Fundo e Fecho de Pasto, Levante Popular da Juventude, Sindicato dos
Trabalhadores/as Rurais de Sobradinho e Remanso, Grupo de Agroecologia
Umbuzeiro, Irpaa, ASA, Articulação Popular São Francisco Vivo, entre outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário