A transposição de águas do Tocantins
para o São Francisco tomou conta da mídia de Juazeiro e Petrolina por esses
dias. Juntos, autoridades e empresários do setor pedem imediata transposição
para salvar seus projetos irrigados.
O pedido chegou a ser feito diretamente
pelo prefeito da cidade à presidenta Dilma quando ela veio inaugurar mais
unidades do “Minha Casa, Minha Vida” aqui em Juazeiro.
A presidenta respondeu que uma obra
como essa demanda “bilhões e bilhões”. Será que o obreireismo da presidenta
tomou algum juízo?
Na semana seguinte Dilma inaugurou
simbolicamente o Eixo Norte da Transposição do rio São Francisco para regiões
do Ceará e Rio Grande do Norte. Nem o governo, nem Dilma, nem a mídia do São
Francisco fizeram qualquer vinculação entre as transposições e o assassinato do
Velho Chico.
O fato é que o São Francisco está com
apenas 900 m3/s no lugar que mais tem água, isto é, à jusante de Sobradinho em
direção à Itaparica. Quando o governo discutia conosco a Transposição do São
Francisco para o Nordeste Setentrional, nos garantia que a vazão segura a
partir de Sobradinho era de 1800 m3/s.
Portanto, a água garantida pelas
autoridades e corporações técnicas simplesmente não existe mais.
O debate dos irrigantes na região é
que, se não chover até Setembro, alguns projetos de irrigação terão seu acesso
à água interrompido por absoluta falta dela nas áreas de captação. Assim, o
projeto Nilo Coelho em Petrolina, com 12 núcleos, teria que fazer um flutuante
de cerca de 4 km para captar água no lago de Sobradinho. O custo está orçado em
mais de 60 milhões de reais.
O Maniçoba, em Juazeiro, que capta no
leito do rio abaixo de Juazeiro, teria que fazer um flutuante para captar no
meio do rio. A derrubada do barranco, com máquinas, para aproximar a tomada de
água, não surtiu efeito.
Então, duas cidades montadas em torno
da irrigação, de repente veem seus projetos ameaçados de irem para o balaio
exatamente por falta de água. Daí o desespero de pedir a transposição do
Tocantins para o São Francisco.
Há uma tremenda ilusão a esse respeito,
já que apenas expande o modelo predador. Uma obra dessas leva décadas e custa
bilhões. Segundo, é o atestado de óbito do São Francisco. É como dizer: “o São
Francisco não tem salvação, agora a salvação é transpor o Tocantins para cá”.
A região é o exemplo do modelo
insustentável de desenvolvimento. A expansão da demanda de água ilimitada agora
mostra seus limites. Como sempre dissemos, a inflexão só viria com os impasses.
E eles se fazem cada vez mais assombrosos também para o setor econômico.
Só para lembrar, a transposição do São
Francisco para o Setentrional nem começou. Portanto, se falta água hoje até
para os projetos de irrigação de Juazeiro e Petrolina, onde vão achar água para
expandir o modelo baseado na irrigação para outros estados?
Esse poço não tem fundo, mas o São
Francisco tem.
Autor(a): Roberto Malvezzi (Gogó)- Escritor,
compositor e músico
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